Bhante Henepola Gunaratana
A meditação não deve ser um escapismo para lugares fantasiosos, nem a procura de estados alterados de consciência ou a busca de poderes mentais. Ilusões desse tipo são obstáculos ao desenvolvimento espiritual.
A meditação é um instrumento para que, adestrando a mente a ver com clareza as coisas fenomênicas, possamos discernir as ações, pensamentos e falas que são propícios ao caminho espiritual e os que perpetuam os problemas e apegos ao mundo saṃsārico.
Observemos as reações da mente ao sofrimento, doença, prazer, a natureza dos desejos e suas consequências. Vejamos nosso descontentamento, rejeitando o que nos desgosta, querendo o que não temos, sendo inábeis em conservar o que de bom conquistamos.
Observemos as verdadeiras raízes de nossa insatisfação, de que nada nos pertence nesta efêmera Roda da Existência de nascer e morrer: o Saṁsāra. Nada é “eu” nem “meu”, são apenas experiências que passam pela mente. Com isso, a mente reluz pacífica e duradouramente em sua verdadeira natureza de claridade e frescor.
A vida pode ser vivida, não no passado que se foi nem no futuro que não chegou, mas no presente, aqui e agora. Vivemos a transitoriedade de nosso dia a dia com arte, sabedoria atenta e desapego, cultivando a compaixão e o bem-querer irradiante, mettā, para com todos os seres, a começar por nós mesmos, nossos amigos e parentes, aqueles que nos são indiferentes e aqueles por quem não nutrimos simpatia. Lembremos que todos somos prisioneiros e carcereiros na prisão da ilusão e do desejo de permanecer usufruindo das experiências da vida condicionada, do desejo de existir.
Lembremos que nossa prática espiritual caminha junto com a observância dos CINCO primeiros preceitos éticos (sīla) preconizados pelo Budismo:
1 – Não matar intencionalmente outros seres vivos;
2 – Não roubar e não tomar o que não nos tenha sido dado;
3 – Não ter conduta sexual imprópria (isto é, não trair, não se envolver com outras pessoas comprometidas);
4 – Não mentir, não fazer uso de fala maliciosa, não fazer uso de fala inútil;
5 – Não consumir álcool e outras drogas que tornam a mente nebulosa.