Ajahn Anan
Ajahn Chah frequentemente recomendava a contemplação da morte como um antídoto para a mente agitada e inquieta, especialmente quando dominada por pensamentos descontrolados. Essa reflexão é tão poderosa que, quando somos tomados por ganância, raiva ou confusão, ela pode cortar imediatamente essas emoções, trazendo uma sensação de urgência e clareza. Basta pensar: “Espere. Eu vou morrer em breve.” Essa simples recordação dissolve preocupações triviais, trazendo foco ao que verdadeiramente importa.
Podemos cultivar essa prática refletindo sobre a incerteza da vida e a inevitabilidade da morte. Tendo nascido, todos estamos fadados a morrer — essa é a lei natural. Notícias de mortes e perdas podem servir como lembrete de nossa própria mortalidade. Considere: se a população mundial é de oito bilhões e duzentos e vinte milhões de pessoas (onde 7,5 % são budistas), cerca de sessenta milhões morrem a cada ano. Em uma década, são seiscentos milhões; em um século, todos os seis bilhões teriam partido — caso não houvesse novos nascimentos.
Mas como a vida se renova constantemente, a morte passa despercebida, exceto em tragédias coletivas, como desastres naturais. Diante desses eventos, podemos lembrar: “Isso também acontecerá comigo. A morte é inevitável.”
Contudo, a reflexão sobre a morte deve ser feita com sabedoria. Se praticada corretamente, desperta urgência e serenidade, fortalecendo a Atenção Plena. Se mal direcionada, pode levar ao desânimo ou a uma visão nihilista[1] da vida. Portanto, é essencial observar os efeitos dessa contemplação: se surgirem paz, energia e discernimento, estamos no caminho certo. Caso contrário, é preciso ajustar a prática.
[1] Usa finitude, não havendo mais nada, ou seja, morreu acabou.