Ajahn Jayasāro
Quando enfrentamos dificuldades, nossa primeira reação é quase sempre de resistência. Mesmo em países quentes como a Tailândia, uma “bola de neve” de pensamentos negativos pode surgir na mente: “Eu não precisava disso agora”, “Por que comigo?”, “Isso não é justo”, “Não aguento mais”, “Queria que tudo voltasse a ser como antes” — e assim por diante. Se essa espiral mental seguir para “Não tenho esperança; não valho nada”, ela se torna verdadeiramente tóxica.
A Vibhāva Taṅhā — o desejo de não ser, não ter ou não sentir — nunca nos ajuda a lidar com experiências difíceis. Pelo contrário: só piora a dor, prolonga o sofrimento e deixa marcas mais profundas. Sob sua influência, podemos agir e falar de forma impulsiva, gerando consequências duradouras.
O que pode nos ajudar?
- Paciência: Suportar com calma as sensações desagradáveis no Corpo e na Mente.
- Não reprimir, nem se entregar: Evitar ignorar, distrair-se ou alimentar esses sentimentos. Simplesmente coexistir com eles.
- Lembrar-se: Como dizia Ajahn Sumedho, “É assim”. Tudo muda.
Algumas situações são realmente dolorosas, mas muitas vezes nós as tornamos ainda mais difíceis do que precisam ser. E isso é algo que podemos evitar.
Ensinamento – Vibhāva Taṇhā e a Visão Materialista (Uccēda Diṭṭhi)
1. A Raiz do Materialismo
Vibhāva taṇhā surge da visão materialista (uccēda diṭṭhi, pronunciado “uchchēda”), que inclui duas crenças centrais:
- Que a existência humana cessa completamente com a morte.
- Que a mente é apenas um subproduto do corpo (cérebro), terminando junto com ele.
Essa perspectiva leva à conclusão de que é preciso aproveitar ao máximo os prazeres desta vida, pois não haverá outra chance. Naturalmente, tal mentalidade também está ligada ao kāma taṇhā (desejo por prazeres sensuais).
2. O Materialismo na Sociedade Moderna
Hoje, é fácil cair em vibhāva taṇhā, especialmente para quem desconhece os ensinamentos do Buda sobre:
- Os 31 reinos da existência.
- O processo de renascimento (saṁsāra).
Nossos sentidos humanos não conseguem perceber essas dimensões mais sutis, e muitas pessoas acreditam apenas no que veem. No entanto, compreender essa visão mais ampla é essencial para explicar plenamente as experiências da vida (como discutido em “Caprichos da Vida e o Caminho para Buscar Bons Renascimentos”).
3. As Consequências do Uccēda Diṭṭhi
Essa visão materialista (ou niilista) frequentemente justifica ações imorais, já que tudo é visto como uma oportunidade para o próprio prazer. Por exemplo: Animais sofrem ao serem mortos, mas muitos ignoram seu sofrimento, pensando: “Se esta é a única vida, não há consequências futuras.”
Essa lógica é refutada no Brahmajāla Sūtta (Dīgha Nikāya 1), que explora a ligação entre uccēda diṭṭhi e vibhāva taṇhā.
4. Reflexão Ética: Vegetais versus Animais
Vale a pena ponderar:
Vegetais não possuem mente ou capacidade de sentir dor como os animais.
Animais, assim como nós, são seres sencientes. A única diferença está no nível intelectual — nossa inteligência superior é resultado de kamma passado, não de um status permanente.
Se acumularmos kamma negativo, podemos renascer como animais no futuro. Essa análise exige tempo e estudo, mas muitas pessoas não se dedicam a investigar a profundidade do Dhamma, que oferece respostas consistentes para as complexidades da vida.