Ajahn Jayasaro
Theravāda, o ‘caminho’ (vāda) dos anciãos, é o nome da escola de Budismo na Tailândia. É a forma de Budismo que se difundiu para sul a partir do ‘País Central’ no noroeste da Índia, floresceu no Sri Lanka e depois espalhou-se ao longo do Oceano Índico para o sul da Ásia. Actualmente, aparte da sua presença na Tailândia, é o Budismo que existe no Sri Lanka, Birmânia, Camboja, Laos, e em algumas partes do sul do Vietname.
O Budismo Theravāda é uma tradição conservadora, que se distingue pela visão de que o corpo de ensinamentos, dados pelo Buda ao longo da sua vida, está completo sem qualquer necessidade de correção ou de embelezamento. No Budismo Theravāda a principal tarefa é assegurar que os ensinamentos de Buda, contidos no Canon Pāli (Tipițaka), sejam preservados, estudados e postos em prática, de forma a que a verdade que contem possa ser vivida, e sempre que seja apropriado, partilhada com os outros.
Aproximadamente duzentos anos depois do Buda ter falecido, o notório imperador Asoka determinou que um pequeno grupo de monges viajasse pelo mundo, partilhando o Dhamma com quem estivesse interessado em aprendê-lo. Um desses grupos foi enviado para o sudeste da Ásia, região conhecida como Suvannabhumi, uma área que incluía o que hoje é a parte central da Tailândia.
Acredita-se que foi estabelecido um mosteiro no local da moderna cidade Nakhon Phathom (mais tarde celebrado com uma grandiosa estupa1). Este é o primeiro relato do Budismo na Tailândia, embora seja escassa a evidência histórica de tal. Existem, contudo, muitas evidências arqueológicas que apontam para a importância do Budismo algum tempo mais tarde, no período Dvāravati (do século VI ao séc.XII). É provável que a civilização Dvāravati tenha sucumbido ao império de Angkor e o Budismo Theravāda tenha sido largamente suplantado pelo Bramanismo e mais tarde pelo Budismo Mahāyāna.
A tradição Theravāda restabeleceu-se com a emergência do reino independente da Tailândia de Sukhothai no séc. XIII. O primeiro rei de Sukhothai construiu um mosteiro para a comunidade dos monges da floresta treinados no Sri Lanka (antigo Ceilão), que nessa altura tinham estado a viver no sul do país em Nakohn Si Thammarat. Isto assinalou o começo de uma relação estreita entre a nação tailandesa e o Budismo Theravāda que se prolongou até à presente data.
O Budismo não é uma religião de cruzadas, nem tentou sequer alguma vez converter ou eliminar os seus rivais, pelo contrário desejou viver com eles em paz. Ao longo dos séculos, inclui-se o facto de as comunidades tailandesas terem influências conciliadoras com o Bramanismo indiano e com origens chinesas, bem como com práticas animistas antigas. Onde quer que e quando esta atitude tolerante não foi acompanhada por uma transmissão precisa de ensinamentos budistas, as fronteiras entre as diferentes tradições acabaram por tornar-se confusas. Desta forma, um número de crenças não-budistas acabaram por deslizar para a corrente budista.
O derradeiro desafio enfrentado tem sido as enormes mudanças a nível social e cultural trazidas pelo moderno desenvolvimento econômico. Os valores do mundo insinuaram-se em muitas partes da comunidade budista. Alguns mosteiros enriqueceram e não utilizaram a sua riqueza de forma sábia. Ao mesmo tempo, uma reacção a este materialismo galopante manifesta-se de forma crescente e oferece esperança para o futuro.
O Buda foi Aquele que despertou. A sua Mente foi liberta de todas as aflições e alcançou a perfeição na sabedoria, compaixão, pureza interior e paz. Mas todas estas virtudes – a essência do estado de ser Buda e o objecto da devoção budista – são qualidades abstratas, e a maioria das pessoas precisa de um foco visível para a sua reverência e memória. As estátuas de Buda oferecem esse foco.
Os budistas criaram as suas primeiras estátuas inspirados nas de Apolo erigidas na colônia grega de Gandhara (uma área que cobre partes do actual Paquistão e Afeganistão). As estátuas de Buda não pretendem ser representações realistas do Buda histórico, sendo antes figuras que evocam as qualidades inspiradoras que tornaram o Buda único. Curvar-se perante o Buda, primeiro de tudo, é um ato de devoção a uma forma que representa ‘O Completamente Iluminado’, ‘o professor inultrapassável de deuses e de humanos’, ou, como é frequentemente chamado, ‘o grandioso médico’. Também é uma forma de humildade de quem se curva – expressa pelo toque da cabeça no chão – perante as virtudes do Buda e um relembrar do seu compromisso para cultivar essas virtudes.
Os budistas fazem a vênia por três vezes à estátua do Buda. A segunda vênia é ao Dhamma, a verdade dos ensinamentos do Buda que levaram à realização dessa verdade. A terceira vênia é o Sangha, a comunidade dos seus discípulos (monges e/ou leigos).
- Estupa é uma cosntruçaõa de forma circular, que se usava antigamente para armazenar os ossos restante da cremação de um cadáver. ↩︎