Ajahn Lee Dhammadaro – 1.958 (2.501 era Budista)
Os benefícios da boa vontade são: (1) Ela purifica as virtudes da pessoa que a desenvolve; e (2) leva a mente à concentração correta. É por isso que ela está incluída nos quarenta temas clássicos de concentração.
O nosso Senhor Buda, desde o tempo antes de atingir o Despertar até entrar no parinibbāna (extinção total), praticou a boa vontade em suas ações, em suas palavras e em seus pensamentos em todos os momentos. O fato de nós, seres humanos, termos vivido em paz através das virtudes da Jóia Tríplice (Buda, Darma e Sangha) até os dias atuais é devido ao poder da grande boa vontade e compaixão do Buda. Por essa razão, nós também devemos desenvolver boa vontade por todos os seres, seguindo o seu exemplo.
O poder da boa vontade pode trazer paz e segurança ao mundo de inúmeras maneiras. Há uma breve história dos tempos do Buda que ilustra esse ponto. Certa vez, um rei estava retornando para casa com suas tropas após ter participado de uma batalha. No caminho, eles pararam em uma floresta fresca e tranquila para descansar e encontrar água para beber e se banhar. Lá, na floresta, eles encontraram um grupo de cerca de 500 monges praticando a Concentração da boa vontade.
A serenidade dos monges — que não faziam nenhum barulho — impressionou o rei. Ele pensou consigo mesmo: “Mesmo em uma única casa com duas ou três pessoas, é certo que haverá brigas e agitação. Mas aqui esses contemplativos estão vivendo juntos, às centenas, sem qualquer agitação. Se o nosso país pudesse estar em paz assim, provavelmente não haveria necessidade de batalhas ou guerras.”
Impressionado, o rei se aproximou do monge líder, inclinou-se e pediu para ser instruído na prática contemplativa. Após ouvir os conselhos do monge líder, ele enviou suas tropas de volta à capital e permaneceu na floresta, praticando a meditação da boa vontade por doze anos, até dominar os jhānas (estados meditativos profundos). Somente então ele retornou à sua capital.
Logo ao retornar, ele começou a espalhar pensamentos de boa vontade em todas as direções, por todo o seu reino e também pelos reinos vizinhos. Seu povo se reuniu ao seu redor: feliz, alegre e cheio de respeito por ele. Quando ele conversava com eles para conhecer suas dificuldades e alegrias, ele os ensinava a desenvolver boa vontade, compaixão, alegria empática e equanimidade uns pelos outros.
Cativados por suas palavras, o povo o ouvia com confiança e respeito, e seguia suas instruções. A partir daquele momento, o amor e a bondade se espalharam por cada lar e vila, criando um senso de amizade, companheirismo e cooperação que se estendeu por todo o reino. Não houve mais guerras com os reinos vizinhos, e o povo viveu em felicidade e paz. Essa história mostra o que o poder da bondade no coração de uma única pessoa pode realizar: traz segurança e bem-estar para as pessoas de uma nação inteira.
É por isso que o Buda nos ensina a desenvolver a bondade interior meditando sobre a boa vontade. Mas você precisa ser sincero e realmente praticar se quiser obter resultados reais. Mesmo que seja por um curto período de tempo — como o movimento das orelhas de um elefante ou o tremor da língua de uma cobra — isso pode gerar um poder incrível, como o poder de um elefante ou de uma cobra, que podem matar pessoas ou outros animais em um piscar de olhos.
Mas se você não for verdadeiramente sincero no que faz, o poder da Verdade não surgirá na Mente, e você não será capaz de usá-lo para obter resultados — como a orelha de um cachorro ou de um gato: ela pode se mover o dia todo, mas não causará medo em ninguém. Já um elefante sozinho, basta mover as orelhas uma única vez, e as pessoas correm desesperadamente, quase tropeçando em suas próprias pernas. Ou uma mesmo uma cobra: basta mover a língua uma vez, e as pessoas desmaiam de medo. O poder da sinceridade verdadeira da Mente tem o mesmo tipo de potência.
A coroa mundana de um rei, adornada com todas as nove gemas auspiciosas, mesmo que seja deslumbrante e inestimável, ainda não se compara à coroa do Dhamma de um meditante, adornada com a Jóia do Buda, a Jóia do Dhamma e a Jóia do Saṅgha.
Se permitirmos que o mal flua para o coração, a bondade não terá chance de entrar e assumir o controle. O mal tomará o poder e dominará, enquanto a bondade terá que sair correndo e ficará tremendo do lado de fora dos muros.