Ajahn Suchart Abhijāto (2 de janeiro de 2.568)
“Quanto mais elevado for o nível de Dhamma que você praticar, maior será sua satisfação.”
As monjas (bhikkhuṇīs), mesmo aquelas que alcançaram a iluminação, devem prestar respeito aos monges (bhikkhu), incluindo os mais jovens — exceto aos noviços (sāmaṇerā). O respeito é devido aos monges e a todos que ocupam uma posição superior. O verdadeiro progresso no Dhamma se revela na humildade: quanto mais elevado o nível alcançado, menor será a presunção. A arrogância é inversamente proporcional à realização espiritual.

Os iluminados jamais se opõem aos ensinamentos do Buda ou às práticas por ele prescritas. A prática genuína consiste em reduzir o senso de identidade. À medida que o Dhamma floresce no coração, a autoimportância e o apego ao “eu” diminuem até desaparecerem por completo. Essa mesma autoestima é a raiz do descontentamento e do sofrimento (dukkha). Quando as ações alheias contrariam nossas expectativas, surge a infelicidade — assim como um chefe que se sente ofendido ao ser tratado como um zelador.
Mas há outro caminho: ao invés de reagir, compreenda que o problema reside na percepção alheia. Se alguém o vê como servo, essa é uma limitação da sabedoria dessa pessoa — não há como alterá-la. O essencial é manter a consciência interior: você sabe quem é, independentemente dos olhos do mundo.
Nossa existência não depende do reconhecimento externo. O praticante do Dhamma, à medida que se aprofunda, encontra satisfação que independe de tratamento ou validação. No ápice da realização, até mesmo o desejo por respeito se dissolve. Conta-se que Mae-chee Kaew, apesar de seu elevado entendimento do Dhamma, reverenciava todos os monges visitantes, mesmo os mais jovens. Ela honrava as convenções mundanas: leigos devem respeitar a Saṅgha.
É crucial discernir entre as verdades convencionais (sammuti) e a realidade transcendente (vimutti). Como escreveu Luang tah Mahā Boowa na biografia de Luang Poh Mun, quando questionado por um deva sobre a disposição dos assentos em reuniões monásticas, havia duas respostas:
1. Na perspectiva transcendente, não há hierarquia. Todos se assentam livremente, conforme chegavam.
2. No plano convencional, a ordem segue a antiguidade (vassa[1]). Um monge iluminado, se mais novo na ordenação, jamais precederia um ancião não iluminado. O mesmo se aplica às rondas de esmolas.
Os sábios compreendem essa dualidade sem conflito. A mente iluminada não se perturba com convenções, pois reconhece seu papel no tecer das relações sociais. Ninguém pode medir sua realização interior. Assim como uma criança espiritualmente avançada ainda honra pais menos sábios, o praticante deve agir conforme as normas — sem arrogância, mas com discernimento.
A sociedade atual padece de presunção. Muitos, ao alcançarem status, menosprezam até mesmo os pais, cegos pela ilusão do ego. Um exemplo luminoso é Sua Majestade o Rei: em privado, reverenciava sua mãe; em cerimônias públicas, ocupava o trono enquanto ela se assentava abaixo. São camadas de convenção que exigem adaptação consciente.
Tudo isso é como um teatro. Você pode desempenhar papéis opostos — herói ou vilão — conforme o “roteiro” da situação, sem apego à persona. Seja como um ator profissional: interpreta com excelência, mas sabe que não é o personagem. Assim age o sábio, seja como servo ou milionário, sempre livre internamente.
A vida é um convite à imparcialidade. Cumpra seus deveres com equanimidade, consciente do contexto, mas sem exigir reconhecimento. Se o ignorante o desrespeita hoje e pede perdão amanhã, não cultive mágoas. O mundo é assim: há os elogios e há críticas surgem como ondas.
Quando nada se espera dos outros, nada pode feri-lo. Seja deixado sozinho ou sobrecarregado, a Mente treinada no Dhamma permanece inabalável — como uma montanha que observa as nuvens passageiras.
Por Ajahn Suchart Abhijāto
[1] Estação das chuvas que duram três meses