Lidando com a depressão do jeito buddhista
Eu gostaria de falar sobre um problema que tem se tornado cada vez mais comum em sociedades modernas, como a de Cingapura e de outros países modernos: a depressão. Quando você olha as sociedades tradicionais você percebe que parece que nem têm uma palavra para esse problema. Isso não é porque as pessoas nessas sociedades não ficaram para baixo algumas vezes nem porque a depressão era desconhecida; ela era. Mas certamente parece que não era tão comum como se tornou na maioria das sociedades industriais modernas e prósperas.
Na verdade, a depressão tem se tornado tão comum que empresas que produzem antidepressivos, como fluoxetina, diazepam, prozac e similares, lucram muito. Para um bom retorno de seu investimento, coloque seu dinheiro numa empresa que vende antidepressivos. Porque tantas pessoas têm ficado tão deprimidas, a vida para elas aparentemente perdendo o sentido, a única maneira de conseguir sair disso é com a ajuda de antidepressivos.
Como dissemos, a depressão não se restringe às sociedades modernas nem é um problema novo. Ela chega a ser descrita nas escrituras buddhistas em termos com os quais já estamos familiarizados. Nossa língua tem várias palavras para descrever os diferentes tipos e intensidades de depressão, como melancolia, desânimo, abatimento, prostração, entre outras. Winston Churchill sofria de graves crises de depressão e referia-se a ela como um “cão negro”. No buddhismo, a principal palavra para referir-se à depressão é visāda . A palavra soka é utilizada com mais frequência para referir-se ao luto, o tipo de depressão em geral associado à morte de um ente querido. No entanto, o Buddha também usava a palavra soka para referir-se a uma série de sentimentos negativos que acompanham a perda, o fracasso, a autodepreciação e o medo da morte. Ele descreve os sintomas associados à ruminação provocada pela culpa como se segue: “Quando um tolo está parado em sua cadeira, em sua cama ou no chão, as más ações corporais, verbais ou mentais que ele realizou no passado o envolvem e o cobrem. Assim como a sombra de uma montanha alta no fim da tarde envolve e cobre a terra como um véu, as más ações corporais, verbais ou mentais que o tolo realizou no passado também o envolvem e o cobrem . O tolo pensa: ‘Eu não fiz bem, eu fiz o mal’ e se entristece, se abate, se lamenta, chora, range os dentes e se atormenta”. Alguns dos outros sintomas associados à depressão, descritos pelo Buddha e imediatamente reconhecidos por qualquer psicólogo moderno, incluem perda de interesse no trabalho e perda de apetite, ombros caídos, expressão sombria, ruminação e retraimento na comunicação.
Pode-se dizer que há três tipos de depressão. O primeiro deve-se a algum desequilíbrio químico no cérebro. Este tipo de depressão geralmente responde à terapia medicamentosa e por isso não falaremos dele aqui. Deixando este de lado, existem dois outros tipos. A que se pode chamar de depressão ocasional , e há o que se pode chamar de depressão existencial . Vamos dar uma olhada no primeiro tipo por enquanto, pois é bastante comum. Todos nos sentimos tristes, todos sofremos, todos nos sentimos deprimidos, sombrios, mal- humorados ou deprimidos de tempos em tempos. Em tal estado mental podemos sentir monotonia, perda de interesse, podemos sentir vontade de chorar, e isso pode continuar por algum tempo. Mas geralmente em poucos dias, ou em uma semana ou duas, costumamos superar isso. Essa depressão ocasional pode ser causada por uma variedade de coisas, algumas das mais comuns são morte inesperada de um ser querido, ou um grande revés em nossas vidas.
Você pode dizer que a depressão ocasional tem uma base racional. Por exemplo, se alguém que conhecemos e amamos tenha estado doente por um longo tempo, e nós tenhamos esperado que ela morresse, nós podemos passar por um período de tristeza mas é pouco provável que nos tornemos deprimidos. Ter tido tempo para preparar-se psicologicamente para o falecimento serve de escudo contra a (nos blinda da) depressão. Da mesma maneira, se um ente querido morre na idade da velhice aos 85, 90 ou 95 anos nos sentiremos tristes por um tempo, mas é improvável que fiquemos deprimidos. Saber que eles tiveram uma vida longa, que eles chegaram ao final de seu ciclo de vida natural, nós aceitamos o falecimento como uma parte do curso natural das coisas. No entanto, se um casal acaba de se casar e um deles morre, ou se uma pessoa relativamente jovem morre, ou se alguém morre subitamente e de forma inesperada, não é incomum que seus pais, irmãos e amigos experimentem luto que se estenda até depressão por algum tempo. Mas mesmo assim, eles eventualmente se recuperarão e retornarão ao seu estado normal.
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