Skip to content
Menu
Theravada
  • Início
  • News
  • Fundamentos
  • Livros
  • Cânticos
  • Galeria
  • Links
  • Dana
  • Fotos
    • Monges
    • Selos
    • Mosteiros
  • Sobre
Theravada

Karma (ou kamma) é ação e volição

Posted on 05/04/202505/04/2025 by Edmir Ribeiro Terra

Thanissaro Bhikku

Karma é uma dessas palavras que não traduzimos. Seu significado básico é bastante simples — ação . Mas, em função do peso que os ensinamentos do Buddha conferem ao papel da ação, a palavra em sânscrito karma contém tantas implicações que a palavra ação não consegue carregar todo seu volume. É por isso que simplesmente transplantamos a palavra original para nosso vocabulário. Mas, quando tentamos desfazer a bagagem que as conotações da palavra carregam, agora que ela se tornou de uso cotidiano, descobrimos que, durante a viagem, a maioria do seu conteúdo se embaralhou.

Para a maior parte dos americanos, karma funciona como destino — um destino ruim, uma sina, na verdade: uma força inexplicável, imutável, vinda do passado, pela qual somos de alguma forma, vagamente responsáveis e não temos poder para combater. “Imagino que seja simplesmente meu karma”, já ouvi pessoas resmungando quando a má sorte bateu com tanta força que elas não viram alternativa além da aceitação resignada. O fatalismo implícito nesse enunciado é uma das razões pelas quais tantos de nós sentimos repulsa em relação ao conceito de karma, já que ele soa como o tipo de mistificação insensível que pode justificar quase qualquer tipo de sofrimento ou injustiçado status quo: “Se ele é pobre, é por causa do seu karma”. “Se ela foi estuprada, é por causa do seu karma”. A partir daí, parece que é só um pulo para dizer que ele ou ela merecem sofrer, e, então, não merecem nossa ajuda.

Essa interpretação equivocada vem do fato de que o conceito budista do karma veio para o Ocidente na mesma época que vieram outros conceitos não-budistas e acabou se misturando com a bagagem deles. Ainda que muitos conceitos asiáticos de karma sejam fatalistas, o conceito dos primórdios do budismo não era, de forma alguma, fatalista. Na verdade, se olharmos com cuidado para as ideias do karma no budismo arcaico, nos daremos conta de que eles conferem ainda menos importância a mitos sobre o passado do que a maior parte dos americanos.

Para os budistas dos primórdios, karma era não-linear e complexo. Outras escolas indianas acreditavam que o karma operava em uma simples linha reta, com ações do passado influenciando o presente e ações do presente influenciando o futuro. Como resultado, eles consideravam que não havia muito espaço para o livre arbítrio. Os budistas, no entanto, viram que o karma funciona em circuitos múltiplos de retorno, de forma que o momento presente é moldado, tanto por ações do passado, como do próprio presente. Além disso, as ações do presente não são necessariamente determinadas por ações do passado. Em outras palavras, o livre arbítrio existe, ainda que seu alcance seja, até certo ponto, ditado pelo passado. A natureza dessa liberdade é simbolizada por uma imagem usada por esses budistas dos primórdios: água corrente. Algumas vezes, o fluxo do passado é tão forte que pouco pode ser feito além de rapidamente sair da frente; mas também há momentos nos quais o fluxo é tão suave que pode ser desviado para quase toda direção.

Então, ao invés de promover uma sensação resignada de incapacidade de influenciar os fatos, a noção de karma do início do budismo focava no potencial libertador do que a mente está fazendo com cada momento. Quem você é — aquilo de que você vem — não está nem perto de ser tão importante quanto aos motivos da mente para fazer o que ela está fazendo agora. Ainda que o passado possa ser responsável por muitas das desigualdades que vemos na vida, nosso valor como seres humanos não é medido pela sorte que nos é oferecida aleatoriamente, já que essa sorte pode mudar a qualquer momento. Nós mesmos medimos nosso próprio valor, pela maneira como jogamos com a sorte que temos. Se você está sofrendo, você tenta descontinuar os hábitos mentais inábeis que manteriam esse feedback cármico. Se você enxergar que outras pessoas estão sofrendo e você está em uma posição de ajudar, você foca, não no seu passado cármico, mas na sua oportunidade cármica no presente: algum dia você pode se ver na mesma situação em que elas estão agora, então, aqui está a oportunidade de agir da maneira que você gostaria que eles agissem em relação a você quando esse dia vier.

Essa crença de que a dignidade de uma pessoa é medida, não pelo seu passado, mas por ações presentes, batia de frente com as tradições indianas de hierarquias baseadas nas castas — e isso explica porque, no inicio do budismo, os budistas desfrutavam e zombavam das pretensões e da mitologia dos brâmanes. Como o Buddha indicou, um brâmane poderia ser uma pessoa superior, não por ter vindo de um útero brâmane, mas se agisse com intenções realmente hábeis.

Quando lemos a respeito das críticas ao sistema de castas feitas pelos budistas dos primórdios, sem considerar suas implicações contra o racismo, muitas vezes essas críticas nos impactam como algo incongruente. Mas não conseguimos perceber como essas críticas também se relacionam a nossos mitos atuais sobre nosso próprio passado, nossa obsessão por definir quem somos em termos de onde viemos — nossa raça, herança étnica, gênero, meio sócio-econômico, preferência sexual — em resumo, nossas tribos modernas. Colocamos uma quantia de energia excessiva na criação e manutenção da mitologia da nossa tribo, de forma que acabamos desfrutando de um prazer indireto no bom nome da nossa tribo. Até mesmo quando nos tornamos budistas, nossa tribo vem em primeiro lugar.

Queremos um budismo que honre nossos mitos. Do ponto de vista do karma, no entanto, nossas origens são karma antigo, sobre o qual não temos qualquer controle. O que ‘somos’ é um conceito nebuloso na melhor das hipóteses — e, na pior, pernicioso, quando o usamos para buscar desculpas para agir a partir de motivações inábeis. A dignidade de uma tribo está apenas nas ações hábeis individuais dos seus membros. Até mesmo quando essas pessoas boas pertencem a nossa tribo, o bom Karma delas é delas, não nosso. E, claro, cada tribo tem seus membros ruins, o que quer dizer que a mitologia da tribo é algo frágil. Agarrar-se a qualquer coisa frágil requer um amplo investimento de paixão, aversão e delusão, levando, inevitavelmente a mais ações inábeis no futuro.

Então, os ensinamentos budistas sobre karma, longe de ser uma relíquia inusitada do passado, são um desafio direto a um avanço básico — e falha básica — na nossa cultura. Somente quando abandonamos nossa obsessão em achar um orgulho indireto no nosso passado tribal e pudermos nos orgulhar realmente das motivações subjacentes das nossas ações presentes, podemos dizer que a palavra karma , em seu sentido budista, recuperou sua bagagem. E, quando abrirmos a bagagem, descobriremos que ela nos trouxe um presente: o presente que damos a nós mesmos e uns aos outros quando deixamos de lado nossos mitos a respeito de quem somos, e, ao invés disso, passamos a ser honestos sobre o que estamos fazendo a cada momento e, ao mesmo tempo, nos esforçando para fazer isso de forma correta.

Extraido do Livro: Estratégia Nobre, Thanissaro Bhikkhu.

Post Views: 41

Deixe um comentário Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Categorias

  • Cânticos
  • Dana
  • Fotos
  • Fundamentos
  • Galeria
  • História
  • Links
  • Livros
  • Monges
  • Mosteiros
  • News
  • Selos
  • Textos

Pix de Apoio

edmirterra@gmail.com

©2025 Theravada | Powered by Superb Themes