Acesso ao Insight
A definição – “Intenção, eu lhe digo, é kamma (ou karma). Intencionando, alguém faz kamma por meio do corpo, fala e da Mente.” — Angutara Nikaya 6.63
Assumir a responsabilidade pelas próprias ações – ‘Eu sou o dono das minhas ações (kamma), herdeiro das minhas ações, nascido das minhas ações, relacionado através das minhas ações, e tenho minhas ações como meu árbitro. O que quer que eu faça, para o bem ou para o mal, disso serei herdeiro’…
“[Este é um fato que] deve-se refletir frequentemente, seja mulher ou homem, leigo ou ordenado…
“Agora, com base em qual linha de raciocínio deve-se refletir frequentemente… que ‘Eu sou o dono das minhas ações (kamma), herdeiro das minhas ações, nascido das minhas ações, relacionado através das minhas ações, e tenho minhas ações como meu árbitro. O que quer que eu faça, para o bem ou para o mal, disso serei herdeiro’? Existem seres que se conduzem de forma ruim no corpo… na fala… e na mente. Mas quando refletem frequentemente sobre esse fato, essa má conduta no corpo, na fala e na mente será totalmente abandonada ou ficará mais fraca…
“Um discípulo dos nobres considera isto: ‘Eu não sou o único que é dono das minhas ações, herdeiro das minhas ações, nascido das minhas ações, relacionado através das minhas ações, e tenho minhas ações como meu árbitro; que — o que quer que eu faça, para o bem ou para o mal, disso eu serei herdeiro. Na medida em que há seres — passados e futuros, falecendo e ressurgindo — todos os seres são donos de suas ações, herdeiros de suas ações, nascidos de suas ações, relacionados através de suas ações, e vivem dependentes de suas ações.
O que quer que eles façam, para o bem ou para o mal, disso eles serão herdeiros.’ Quando ele/ela frequentemente reflete sobre isso, os [fatores do] caminho nascem. Ele/ela permanece com esse caminho, o desenvolve, o cultiva. À medida que ele/ela permanece com esse caminho, o desenvolve e o cultiva, os grilhões são abandonados, as obsessões são destruídas.” — Angutara Nikaya5.57
Kamma deve ser conhecido e compreendido – “‘Kamma deve ser conhecido. A causa pela qual o kamma entra em jogo deve ser conhecida. A diversidade no kamma deve ser conhecida. O resultado do kamma deve ser conhecido. A cessação do kamma deve ser conhecida. O caminho da prática para a cessação do kamma deve ser conhecido.‘ Assim foi dito. Em referência ao que isso foi dito?
“Intenção, eu lhe digo, é kamma. Intencionando, alguém faz kamma por meio do corpo, fala e Mente. “E qual é a causa pela qual o kamma entra em jogo? O contato é a causa pela qual o kamma entra em jogo.
“E qual é a diversidade no kamma? Há kamma para ser experimentado no inferno, kamma para ser experimentado no reino dos animais comuns, kamma para ser experimentado no reino das sombras famintas, kamma para ser experimentado no mundo humano, kamma para ser experimentado no mundo dos Devas (anjos, anjos elevados, mentes elevadas). Isso é chamado de diversidade no kamma.
“E qual é o resultado do kamma? O resultado do kamma é de três tipos, eu lhe digo: o que surge aqui e agora, o que surge mais tarde [nesta vida] e o que surge depois dessa vida atual (próxima). Isso é chamado de resultado do kamma.
“E qual é a cessação do kamma? Da cessação do contato vem a cessação do kamma; e apenas este Nobre Caminho Óctuplo — visão correta, resolução correta, fala correta, ação correta, modo de vida correto, esforço correto, atenção plena correta, concentração correta — é o caminho da prática que leva à cessação do kamma.
“Agora, quando um discípulo dos nobres discerne o kamma dessa maneira, a causa pela qual o kamma entra em jogo dessa maneira, a diversidade do kamma dessa maneira, o resultado do kamma dessa maneira, a cessação do kamma dessa maneira, e o caminho da prática que leva à cessação do kamma dessa maneira, então ele discerne esta vida santa penetrante como a cessação do kamma.
“‘O kamma deve ser conhecido. A causa pela qual o kamma entra em jogo… A diversidade no kamma… O resultado do kamma… A cessação do kamma… O caminho da prática para a cessação do kamma deve ser conhecido.’ Assim foi dito, e em referência a esse tema isso foi dito.” — Angutara Nikaya 6.63
Muitos ocidentais têm seu primeiro contato com os ensinamentos do Buddha em retiros de Meditação, que geralmente começam com instruções sobre como desenvolver as qualidades hábeis da Atenção Plena correta e da Concentração correta. Vale ressaltar que, por mais importantes que essas qualidades sejam, o Buddha as colocou no final do seu curso gradual de treinamento. O significado é claro: para colher o máximo benefício da prática de Meditação e amadurecer plenamente todas as qualidades necessárias para o Despertar, o trabalho de base fundamental não pode ser negligenciado. Não há atalhos nesse processo de percorrer o Caminho.
Trecho Original Adaptado
Substituindo “ações” por “emoções”:
“Eu sou o dono das minhas emoções (kamma), herdeiro das minhas emoções, nascido das minhas emoções, relacionado através das minhas emoções, e tenho minhas emoções como meu árbitro.
O que quer que eu sinta, para o bem ou para o mal, disso serei herdeiro.”
Explicação Segundo a Neurociência Cognitiva
As Emoções como Construções Neurais
Do ponto de vista da neurociência cognitiva, as emoções não são forças místicas, mas construções que emergem de padrões de atividade em redes cerebrais integradas. Regiões como a amígdala, o córtex pré-frontal ventromedial (CPFvm) e o ínsula trabalham em conjunto para gerar, avaliar e dar significado às nossas sensações internas. Ao afirmar “sou o dono das minhas emoções”, reconhecemos que somos agentes ativos no surgimento desses padrões, e não suas vítimas passivas.
Herança e Plasticidade Neural
Quando dizemos “herdeiro das minhas emoções”, refletimos a ideia de que nossas respostas emocionais têm raízes em aprendizados anteriores — desde circuitos moldados nos primeiros anos de vida até hábitos cultivados ao longo de décadas. No entanto, a neuroplasticidade garante que esses circuitos podem ser modificados. Práticas como a atenção plena (mindfulness) e a reestruturação cognitiva promovem a formação de novas sinapses, enfraquecendo caminhos automáticos de reatividade e fortalecendo vias de regulação.
O Ciclo de Feedback Emocional
“Nascido das minhas emoções, relacionado através das minhas emoções” enfatiza o ciclo em que a emoção gera comportamentos (por exemplo, fugir diante do medo), que, por sua vez, reforçam a emoção original através de feedback sensório-motor e reforço dopaminérgico. Conhecer esse mecanismo — estudado em paradigmas de condicionamento clássico e operante — permite interromper o loop reativo, escolhendo respostas conscientes que não retroalimentem padrões nocivos.
Emoções como Árbitro Interno
A formulação “tenho minhas emoções como meu árbitro” sugere que elas podem guiar decisões de forma sábia, mas somente se lhes dermos o papel adequado. O córtex pré-frontal dorsolateral (CPFdl) exerce controle executivo sobre impulsos emocionais, permitindo a regulação cognitiva. Ao treinar essa via — por exemplo, refletindo sobre os gatilhos emocionais antes de agir — podemos usar nossas emoções como sinalizadores úteis (indicando valores e prioridades), sem sermos dominados por elas.
Responsabilidade e Libertação
“O que quer que eu sinta, para o bem ou para o mal, disso serei herdeiro” reforça a ideia de autorresponsabilidade emocional. Neurocientificamente, esse é o ponto de partida para a regulação emocional voluntária, que envolve tanto estratégias antecedentes (reavaliação cognitiva, planejamento) quanto estratégias de resposta (sutileza na expressão, práticas de relaxamento). Essa autorresponsabilidade é chave para a libertação: ao compreender que cada emoção tem uma base neural e pode ser modulada, reconhecemos a possibilidade de escolher outra resposta — ressignificando experiências e cultivando estados mentais mais saudáveis.
Conexão com a Tradição Theravada e o Caminho Óctuplo
Visão Correta (Sammā-diṭṭhi): Entender emoções como processos neurais e condicionados.
Intenção Correta (Sammā-saṅkappa): Cultivar intenções de não-reagir impulsivamente, baseadas no conhecimento de seus circuitos.
Fala, Ação e Meio de Vida Corretos: Comunicação e comportamento alinhados com uma mente regulada.
Esforço Correto (Sammā-vāyāma): Prática sistemática de técnicas de regulação (atenção plena, reavaliação).
Atenção e Concentração Corretas (Sammā-sati e Sammā-samādhi): Técnicas meditativas reforçam o CPFdl, aprimorando o foco e a redução de reatividade.
Dessa forma, ao “ser herdeiro” de nossas emoções e ao reconhecê-las como produto de nosso próprio cérebro em constante mudança, aplicamos na prática o caminho óctuplo da tradição Theravada, apoiados pelos achados da neurociência cognitiva, rumo à liberdade interior.
Espero que essa formatação atenda às suas expectativas! Se precisar de mais alguma coisa, é só avisar.