Tipitaka
O Poder do Desejo e a Libertação
O desejo, quando alimentado por uma vida descuidada, cresce como uma trepadeira selvagem. Assim como um macaco salta de árvore em árvore em busca de frutos, a mente insatisfeita pula de um prazer para outro, colhendo as consequências de suas próprias ações (kamma).
Quem se deixa dominar por esse desejo ardente e persistente vê suas aflições crescerem como grama após a chuva. Mas quem o supera — por mais difícil que seja — vê suas tristezas escorrerem como gotas d’água sobre uma folha de lótus.
Por isso, digo a vocês: cortem a raiz do desejo! Arranquem-na como quem extrai a raiz da grama birana. Não permitam que Māra, o iludidor, os esmague repetidamente, como uma enchente arrasa um frágil junco.
O Desejo Renasce se a Raiz Permanece
Uma árvore, mesmo cortada, brota novamente se suas raízes estiverem firmes. Da mesma forma, enquanto o desejo não for arrancado pela base, o sofrimento continuará a renascer.
O homem confuso, cujos desejos se lançam avidamente sobre os prazeres, é arrastado por suas próprias paixões, como um rio transbordante. Essas correntes fluem por toda parte, e a trepadeira do desejo se espalha. Mas quem a vê brotar deve cortá-la com a lâmina da sabedoria.
O prazer surge quando o desejo irriga a mente, levando os seres a se apegarem e a buscarem satisfação. Assim, eles caem no ciclo interminável do nascimento e da decadência.
A Corrida sem Fim do Desejo
Perseguidos pelo desejo, os homens correm como lebres encurraladas. Presos por correntes invisíveis, sofrem vida após vida. Há aqueles que, buscando a liberdade, deixam a vida mundana para trás — mas, incapazes de dominar o desejo, voltam ao que antes os aprisionava. Vejam esse homem! Livre, ele retorna à própria escravidão.
Os sábios dizem: “Nem correntes de ferro, madeira ou cordas são tão fortes quanto o apego a riquezas, filhos e esposas.” Esse é o grilhão mais pesado — sutil, mas difícil de quebrar. Apenas o sábio o corta, renunciando aos prazeres e vivendo sem ânsia.
A Teia do Samsara
Quem se entrega à luxúria cai no turbilhão do samsara, como uma aranha presa em sua própria teia. Mas o sábio rompe esses laços, abandona todo sofrimento e transcende o mundo.
Deixem o passado, o futuro e o presente. Atravessem para a outra margem da existência. Com a mente totalmente livre, vocês não mais renascerão.
A Vitória sobre o Desejo
Para quem é atormentado por pensamentos impuros e dominado pela paixão, o desejo só aumenta, fortalecendo seus grilhões. Mas quem domina a mente, medita sobre a impermanência e cultiva a atenção plena — esse sim destrói o desejo e quebra as correntes de Māra.
Aquele que alcançou o objetivo final, que é destemido, livre do apego e arrancou os espinhos da existência — para ele, este é o último corpo.
O Dom do Dhamma
O presente do Dhamma supera todas as dádivas;
O sabor do Dhamma supera todos os prazeres;
A alegria no Dhamma supera todas as delícias.
Quem se liberta do desejo vence todo sofrimento
As riquezas destroem apenas os tolos, não os que buscam a libertação. Na ânsia por posses, o insensato se perde — e leva outras pessoas consigo.
Assim como as ervas daninhas arruínam a plantação, o desejo, o ódio e a delusão arruínam o ser humano. Portanto, o que é oferecido aos Livres do DESEJO dará frutos infinitos.