Ajahn Jayasāro
A mente não Iluminada tende a transformar os meios em fins
Um exemplo claro disso é o dinheiro. Quando o acúmulo de riqueza se torna um fim em si mesmo, gera toxicidade—tanto pessoal quanto social. O Buda não condenava a riqueza em si, mas sim sua acumulação egoísta. Ele ensinou que a riqueza deve ser adquirida de forma ética e depois usada para promover a felicidade e o bem-estar para si mesmo e dos outros.
No Budismo, a FÉ é vista como um meio, não como um fim. Seu papel principal é energizar a Mente, esclarecendo objetivos e valores. No entanto, ela também deve ser guiada pela sabedoria, pois o excesso de FÉ pode facilmente levar à superstição ou ao fanatismo. Essa visão matizada da Fé é incomum. Em muitas sociedades atuais, a FÉ é tratada como um fim em si mesma—onde a crença forte é equivocadamente equiparada à virtude moral.
Há um pensamento mágico difundido de que, se alguém simplesmente acreditar com força suficiente, a realidade se curvará à sua vontade. Nesses casos, a FÉ em si mesma se torna um falso ídolo.
O budismo nos lembra constantemente da rede interconectada de causas e condições que moldam nossas vidas. Embora busquemos a simplicidade, devemos lembrar que a simplificação também é um meio, não um fim. Às vezes, precisamos aprender a abraçar a complexidade em vez de resistir a ela.
Segundo o Angutara Nikaya 3.65 (Thanissaro) sobre a FÉ podemos resumir:
O Buda nunca impôs exigências incondicionais à FÉ de ninguém. Para qualquer pessoa de uma cultura onde as religiões dominantes impõem tais exigências, essa é uma das características mais atraentes do budismo. Lemos suas famosas instruções aos Kalamas, nas quais ele aconselha testar as coisas por si mesmo, e interpretamos isso como um convite para acreditar — ou não — no que quisermos. Alguns chegam a afirmar que a FÉ não tem lugar na tradição budista, e que a atitude adequada seria apenas o ceticismo.
Porém, embora o Buda recomende a tolerância e um ceticismo saudável em questões de FÉ, ele também faz um pedido condicional: se você deseja sinceramente pôr fim ao sofrimento — essa é a condição —, deve aceitar certas coisas pela FÉ, como hipóteses de trabalho, para então testá-las por meio da prática.
Há até mesmo uma sugestão dessa necessidade de fé no discurso aos Kalamas:
“Não se deixem guiar por relatos, lendas, tradições, escrituras, conjecturas lógicas, inferências, analogias, concordâncias após reflexão, probabilidades ou pelo pensamento: ‘Este contemplativo é nosso mestre’. Mas quando souberem por si mesmos que: ‘Estas qualidades são hábeis; estas qualidades são irrepreensíveis; estas qualidades são louvadas pelos sábios; estas qualidades, quando cultivadas e praticadas, conduzem ao bem-estar e à felicidade’ — então, vocês devem abraçá-las e perseverar nelas.”