Suryavamsa
A Atenção Plena é o caminho para a imortalidade, a desatenção, o caminho para a morte. Aqueles que são atentos não morrem, os desatentos estão como os mortos. – Dhammapada, verso 21
Atento entre os desatentos, plenamente desperto entre os adormecidos, aquele de grande Sabedoria avança como um cavalo veloz, que ultrapassa um cavalo fraco. – Dhammapada, verso 29
A Atenção Plena é uma virtude fundamental defendida por toda a tradição budista, desde o Ānāpānassati (atenção plena na respiração) do Theravāda até a cerimônia do chá do budismo Zen japonês. O desenvolvimento da Atenção Plena é a prática básica da Meditação – reunir e focar nossa atenção até que nos tornemos plenamente presentes e realmente experimentemos nossa vida e o que realmente está acontecendo nela. É esse estado que é chamado de imortalidade – a desatenção plena é estar morto para a vida.
A Atenção Plena tem uma qualidade ética, pois se trata de saber o que é hábil e o que é inábil, e de recordar as consequências das ações (boas e más) praticadas. Também tem uma qualidade estética – podemos estar conscientes do nosso mundo e apreciá-lo apenas por si só, absorvendo-o em um nível além da mente mesquinha e gananciosa que vê as coisas em termos de utilidade egocêntrica.
As Quatro Práticas de Atenção Plena são encontradas no Sutta Ānāpānasati e no Satipaṭṭhāna Sutta do Cânone Páli, os textos clássicos sobre esta prática:
1. Atenção Plena ao corpo – saber o que nosso corpo está fazendo, estar em contato com nossos “pedaços e partes”. A atenção plena à respiração é uma prática óbvia para isso, assim como o escaneamento corporal.
2. Atenção Plena aos sentimentos – estar consciente de nossa resposta a pessoas, coisas e pensamentos; estamos satisfeitos, insatisfeitos ou indiferentes?
3. Atenção Plena aos estados mentais – estar em contato com a qualidade de nossa mente e coração a qualquer momento.
4. Atenção Plena aos fenômenos ou objetos da mente – saber em que nossa mente está focando e o que ela está “segurando”.
Sangharakshita, em Visão e Transformação, apresenta uma lista semelhante
1. Coisas – perceber e apreciar o inanimado – a beleza infinita e elusiva de cada floco de milho pela manhã!
2. Si mesmo – em três dimensões – atenção plena ao corpo, aos sentimentos e aos pensamentos.
3. Pessoas – Mettā-bhavana é uma prática de conscientização pessoal. Trata-se de aprender a ver as pessoas como outras pessoas, sentindo e percebendo como nós, e não como objetos.
4. Realidade – enxergar as profundezas do mundo ao nosso redor e estar ciente de suas implicações mais profundas. Podemos refletir sobre as qualidades do Buda ou sobre um de seus ensinamentos até que essas qualidades e verdades se aprofundem o suficiente para que possamos vê-las imbuídas no mundo ao nosso redor.
Atenção Plena leva tempo. Precisamos desacelerar o suficiente para perceber as coisas. Dê a si mesmo tempo para olhar e entrar no momento imortal da consciência!
Algumas observações sobre o Dhammapada 21 citado no texto:
O texto em pali fala em appamado e appamatta (heedfulness) e não sati(plena atenção). Alguns consideram apamatta com a junção de sati e sampajanna (claridade de consciência )
Alguns comentários sobre o verso
Buddharakkhita:
O imortal (amata) : Nibbana, assim chamada porque aquele que o atinge está livre do ciclo de nascimento e morte
Gil Frondsal
Imortalidade (amarra), sinônimo favorito para o estado de libertação. A pessoa que alcança a libertação final fica livre dos ciclos de renascimento. Se ela não renasce, a morte que se segue inevitavelmente ao nascimento não ocorre, podendo se dizer então que a pessoa chegou ao estado de imortalidade. No Dhammapada, o termo imortalidade faz notório contraste com as frequentes referências a Mara, a divindade que traz a morte