Ajahn Tanissaro Bhikku
Sentar aqui e trazer a mente para a quietude não é realmente tão difícil de fazer. A razão pela qual parece difícil é porque entendemos mal as coisas. Nossas visões estão erradas, assim como nossas pressuposições. Se estudarmos para entender esse ponto, saberemos a verdade. Por exemplo, quando pensamos que a Mente vai aqui ou ali, isso não é verdade. É apenas uma noção preconcebida. Na verdade, a Mente fica com o corpo o tempo todo. O que vai é apenas a luz, como com uma lanterna.
A lâmpada fica na lanterna; é simplesmente a luz que pisca. A lâmpada e a luz são duas coisas diferentes. A lâmpada tem luz, mas a luz fora da lanterna não tem uma lâmpada.
A Mente — a consciência em si — fica com o corpo a cada inspiração e expiração. O conhecimento que pisca não é a coisa real. Você não pode pegar a luz e colocá-la de volta na lanterna, assim como quando uma pessoa tenta pegar um feixe de luz, ele não gruda em suas mãos.
Então, se a Mente está sempre no presente, por que praticamos concentração (Meditação)? Praticamos concentração porque há dois tipos de fogo ou eletricidade na Mente: fogo quente, ou seja os fogos da paixão, aversão e delusão; e também o fogo frio, o fogo de jhāna (estado mental elevado), ou da absorção mental.
Se entendermos como treinar a Mente, encontraremos o fogo frio. O fogo quente é ruim para os nervos dos nossos olhos, ouvidos, nariz, língua e corpo. Nossos órgãos sensoriais são como lâmpadas. Os nervos dos sentidos são como os filamentos nas lâmpadas. Se os conectarmos ao tipo errado de corrente, eles explodirão imediatamente.
Se os conectarmos à corrente certa, mas nunca os desligarmos, eles se desgastarão.
Então praticamos concentração porque queremos eletricidade fria, o fogo frio de jhāna. A eletricidade fria não causa danos aos nossos sentidos e nos permite usar nossos sentidos para ver a verdade, para entender tudo o que vemos, ouvimos, cheiramos, provamos, tocamos e pensamos. Dessa forma, a mente pode ficar fria e em paz.
Esta é a habilidade da meditação de insight. Quando as visões atingem o olho, as percepções surgem logo no contato, e podemos vê-las com discernimento. Quando os sons atingem o ouvido, quando os cheiros atingem o nariz, quando os sabores atingem a língua, quando as sensações táteis atingem o corpo, ou as ideias atingem a mente, o discernimento fica bem ali entre eles.
Desta forma, as visões não grudam no olho, e o olho não gruda nas visões; os sons não grudam nos ouvidos, os ouvidos não grudam nos sons, e assim por diante. Este é o insight intuitivo, ou equanimidade de seis fatores, que pode deixar ir tanto os sentidos quanto seus objetos. A mente verdadeira permanece fria e em paz, como o fogo frio que dura e não representa perigo para ninguém.
Quando as pessoas não treinam suas mentes, elas têm que viver com fogo quente, que desgasta diferentes partes de suas mentes, como os nervos de seus olhos, ouvidos, nariz, língua e corpo. Quando esses nervos se desgastam, elas se tornam ignorantes. A visão deles fica escurecida. Quando veem coisas, não sabem a verdade dessas coisas. Isso é chamado de inconsciência. Seus ouvidos ficam surdos: quando ouvem sons, não sabem a verdade desses sons. O mesmo vale para o nariz, língua, corpo e mente. O que quer que sintam, não sabem a verdade dessas coisas. Isso é chamado de inconsciência. Dá origem ao desejo e à contaminação, e leva ao sofrimento. É isso que significa ser ignorante da verdade.
Pessoas ignorantes da verdade são como os cegos. Elas têm problemas em todos os lugares que andam, pensando que coisas altas são baixas e coisas baixas são altas — como quando um cego anda em terreno plano, levantando os pés para o alto porque tem medo de tropeçar em algo. Da mesma forma, pessoas que não sabem a verdade pensam que o Dhamma profundo é superficial, o Dhamma superficial é profundo; o Dhamma alto é baixo, o Dhamma baixo é alto. Essa é a Visão Errada.
Quando suas visões estão erradas, sua prática está errada; sua liberação está errada — como levantar os pés para subir uma escada que não tem degraus. Há pessoas que querem se colocar em um nível alto, mas sem a base adequada. Suas mentes não têm concentração. Elas continuam andando, pensando, imaginando sobre o Dhamma de alto nível, mas acabam voltando para onde começaram. Elas são como uma pessoa cega tentando subir uma escada cujo degrau inferior está faltando. Ela continuará pisando no mesmo ponto do chão. Da mesma forma, pessoas em um nível baixo que pensam que estão em um nível alto acabam afundando cada vez mais no chão. Quanto mais tentam subir, mais fundo vão. Como um elefante caído na lama: quanto mais ela luta, mais fundo ele se afunda.
Os degraus da escada são virtude, concentração e discernimento. Se seguirmos os degraus, chegaremos aonde queremos ir — como uma pessoa com boa visão subindo escadas que realmente têm degraus.
Pessoas que praticam Concentração podem saber coisas quer seus olhos estejam abertos ou estejam fechados, porque elas têm brilho dentro delas.