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Libertação da Raiva: A Arte de Ver com Clareza

Posted on 16/10/202516/10/2025 by Edmir Ribeiro Terra

Alan Watts1

Libertação da Raiva: A Arte de Ver com Clareza

1. A Ilusão da Provocação

Muitas vezes acreditamos que outras pessoas nos deixam com raiva — que suas palavras, sua grosseria ou seus erros são a causa de nossa agitação. No entanto, como Alan Watts apontaria, ninguém jamais realmente nos deixou com raiva. O que nos perturba não é o ato em si, mas a nossa resistência a ele.

A raiva não nasce de fora, mas de dentro. É a recusa do que é. Quando exigimos que a vida se comporte de maneira diferente e ela não se comporta, o coração se contrai, a respiração fica mais curta e a mente começa a protestar. Nesse protesto, a raiva cria raízes. As pessoas sempre agirão de acordo com seu próprio condicionamento. Elas irão decepcionar, frustrar e nos interpretar mal — isso faz parte da dança delas. A questão é: você precisa sofrer por causa disso?

2. A Natureza da Raiva

A raiva é como segurar uma brasa com a intenção de jogá-la em outra pessoa — você pode jogá-la, mas somente depois que ela queimar sua mão. É a loucura da mente, a ilusão de que, ao machucar outra pessoa, você pode se proteger. Sentir raiva é beber um veneno e esperar que a outra pessoa adoeça. No entanto, continuamos a aceitar esse veneno porque parece justificado, até mesmo correto. Mas a raiva, na verdade, pune quem a possui.

Watts ensina que você não pode se livrar da raiva por meio da supressão ou da expressão violenta. Ambas as coisas o mantêm enredado na mesma energia. A única liberação verdadeira vem através da consciência — por meio da observação da raiva conforme ela surge.

3. Observando a Tempestade

Quando a irritação ou a raiva começarem a surgir, pare e observe. Observe a tensão em seu peito, a respiração acelerada, o fluxo de palavras se formando em sua mente. Não aja de acordo com elas. Observe-as. Você não é a tempestade; você é a testemunha da tempestade. E quando você observa com total atenção, algo notável acontece: a tempestade enfraquece.

A raiva prospera na inconsciência. Ela se alimenta da identificação — quando você acredita que está com raiva. Mas no momento em que a consciência entra, uma lacuna se abre entre você e o sentimento. Você o vê, o nomeia e, nesse ver, ele começa a se dissolver. A raiva vista é a raiva já desaparecendo.

4. Aceitação versus Aprovação

As pessoas costumam perguntar: “Devo simplesmente aceitar quando alguém me insulta ou me prejudica?” A resposta é sim — mas aceitação não significa aprovação. Aceitação significa permitir que a realidade seja o que é, sem resistência interna. Suponha que alguém o chame de tolo. Você pode argumentar, se defender e carregar esse insulto por horas — ou pode sorrir, reconhecendo que as palavras dessa pessoa são meros sons moldados por seu próprio condicionamento.

Quando você para de se levar tão a sério, o insulto perde seu poder. Nenhuma palavra pode definir o que você realmente é. Como diziam os estoicos, não são as coisas que nos perturbam, mas nossas opiniões sobre as coisas. A dor não vem do insulto em si, mas da sua concordância com ele. Se você se recusar a concordar, o insulto passará por você como o vento pelas árvores.

5. A Liberdade de Recusar o Presente

Você não pode impedir os outros de insultar, julgar ou fazer tolices — mas pode parar de aceitá-los. Todo ato de provocação é como um presente. No momento em que você se recusa a recebê-lo, ele retorna a quem o deu. Isso não é fraqueza; é liberdade. Pois que poder alguém realmente tem sobre você se você não pode ser provocado?

Imagine a paz de caminhar pela vida intocável — não porque você luta, mas porque se recusa a carregar o fardo. Essa é a liberdade que vem da compreensão, não do controle.

6. A Raiz da Raiva: Expectativa

A raiva nasce da expectativa — a crença de que pessoas e eventos devem corresponder às suas preferências. Quando não correspondem, você resiste, e a resistência queima. Na verdade, o mundo não existe para cumprir o seu roteiro. Os outros não estão aqui para representar os papéis que você escreveu para eles. Quando você exige que eles façam isso, você sofre. Quando você libera essa exigência, a paz retorna.

Como disse Watts, amor não é controle. Amar é permitir que o outro seja como é — mesmo quando o decepciona. O verdadeiro amor não contém raiva, porque não insiste que a vida se encaixe em um projeto.

7. Voltando a Consciência para Dentro

A raiva em relação aos outros muitas vezes reflete a raiva em relação a si mesmo. Com que facilidade condenamos nossos próprios erros, esquecendo que o autojulgamento é apenas mais uma forma de violência. Quando você se perdoa — quando permite que suas falhas existam sem ódio — seu mundo exterior se suaviza. Você não projeta mais sua guerra interior nos outros.

Se você consegue rir das suas próprias tolices, consegue rir das deles. Se você consegue perdoar suas próprias fraquezas, perdoará as deles também. A autoaceitação se torna a raiz da compaixão.

8. O Poder da Clareza Calma

Muitos temem que, sem raiva, se tornem fracos — que outros se aproveitem de sua calma. Mas estar livre da raiva não é passividade. É força sem veneno. Uma pessoa livre de raiva pode dizer não, pode estabelecer limites, pode ir embora — mas o faz sem ódio. Sua clareza é mais nítida que a raiva porque não é turva.

Movido pela emoção.

Um líder irado impõe obediência através do medo; um líder calmo inspira confiança através da presença. A mesma verdade se aplica a pais, professores e amantes. Quando você age sem raiva, sua força se torna pura e os outros sentem sua integridade.

9. A Prática da Consciência

A libertação da raiva não é alcançada em um único momento; ela é cultivada através da consciência. Ao longo do dia, observe as pequenas faíscas antes que se transformem em chamas — um atraso, uma interrupção, um desentendimento. Faça uma pausa e respire. Diga silenciosamente: “Aqui está a semente da raiva”.

Se você a detectar cedo, ela não poderá crescer. Com o tempo, isso se tornará uma segunda natureza. O mundo ainda pode lançar faíscas em sua direção, mas não haverá madeira seca em você para acender. Isso não é a supressão do sentimento — é o florescimento da compreensão. Quando você enxerga claramente, o fogo não pode mais queimá-lo.

10. O Dom da Quietude

Viver sem raiva não é viver sem emoção. É seguir pela vida com o coração aberto e a mente clara. Você ainda sente, mas não é escravizado pelo sentimento. Na quietude que se segue à consciência, uma nova energia surge — uma energia de clareza, compaixão e alegria silenciosa. Os outros sentem isso em você e também começam a se acalmar.

Pois a paz é contagiosa, assim como a raiva. E o mundo precisa da sua paz.

  1. Alan Wilson Watts (Chislehurst, Inglaterra, 6 de janeiro de 1915 — Condado de Marin, 16 de novembro de 1973) foi um filósofo, escritor e orador britânico, notável por interpretar e adaptar as filosofias orientais ao mundo ocidental.
    Ao longo de sua carreira, escreveu mais de 25 livros e diversos artigos abordando temas religiosos e existenciais. Figura emblemática da contracultura dos anos 1960, apresentou o Budismo Zen de forma acessível ao público ocidental, como demonstrado em sua obra mais famosa, O Caminho do Zen (em inglês: The Way of Zen), publicada em 1957.
    Natural da Inglaterra, mudou-se para os Estados Unidos aos 23 anos, onde concluiu um mestrado em teologia e, posteriormente, passou a atrair a atenção de círculos ligados à espiritualidade e ao pensamento filosófico. Em seus últimos anos, refugiou-se nas montanhas da Califórnia, dedicando-se a retiros e em suas reflexões pessoais. ↩︎
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