Ajahn Suchart Abhijato
Vivendo como Leigo: Desafios e Oportunidades na Prática
Viver como leigo traz consigo obrigações sociais que, por vezes, podem se tornar obstáculos à Prática espiritual. No entanto, é essencial encontrar maneiras de se afastar temporariamente dessas responsabilidades. Uma possibilidade é realizar retiros em monastérios (mosteiros) durante finais de semana ou feriados.
A prática espiritual exige paciência e determinação. Não se trata de mergulhar de cabeça de forma impulsiva, mas de dar um passo de cada vez, cultivando coragem para enfrentar o que for necessário — mesmo quando desagradável ou difícil. Se você reconhece que este é o caminho a seguir, não espere por uma “oportunidade perfeita”, pois ela já está aqui, assim como os bons mestres.
A Tailândia, como país budista, oferece um ambiente propício para a prática do Budismo. As pessoas cultivam mérito (puñña) por meio da generosidade (dāna), da observância dos preceitos (sīla) e da Meditação (bhāvanā). Nada impede verdadeiramente a prática — a escolha está em suas mãos.
Se você continuar vivendo como sempre fez, apenas manterá o mérito acumulado no passado, sem progresso. Se antes observava os cinco preceitos, permanecerá nesse patamar; se praticava a doação em certa medida, não irá além disso. O crescimento espiritual exige esforço consciente para elevar seu próprio nível.
A Simplicidade como Caminho para a Felicidade
A verdadeira felicidade não reside em prazeres materiais ou buscas mundanas, mas no cultivo do mérito e na satisfação com o essencial. Algumas pessoas preferem gastar em luxos — como sabonetes caros ou marcas de perfumes importados —, mas isso só alimenta o apego. Reduzir despesas supérfluas permite direcionar recursos para ações meritórias, trazendo paz interior e diminuindo a ânsia por consumo.
Como praticante do Dhamma, você é encorajado a viver com simplicidade:
- Dois conjuntos de roupas são suficientes (um em uso, e outro lavando).
- Um colchão fino sobre um piso de madeira basta para repousar.
- Duas refeições modestas por dia saciam tanto quanto banquetes caros — mas sem a pressão de precisar ganhar muito para sustentar hábitos dispendiosos.
Há exceções: aqueles nascidos no estado de riqueza, acostumados a confortos, podem encontrar maior dificuldade em abrir mão desses prazeres. No entanto, a felicidade espiritual requer Desapego. Se você nunca experimentou a simplicidade, talvez não consiga perceber seus benefícios.
Apego à Riqueza e o Exemplo do Buda
Muitos, mesmo tendo contato com o budismo nesta vida, falham em se beneficiar dele. Apegados à fortuna e aos prazeres mundanos, permanecem presos em ciclos de desejo. Poucos são como o Buda, que, apesar de sua realeza, acumulou méritos suficientes para renunciar a tudo sem hesitação.
Quantos reis hoje abandonariam seus tronos para se tornarem monges? Nenhum, pois lhes falta o mérito e as Perfeições (pāramī) do Buda. Ele, porém, desde cedo experimentou a felicidade transcendente da Concentração (samādhi). Durante a Cerimônia Real de Aração[1], enquanto outros se ocupavam com rituais, ele encontrou profunda serenidade sob uma árvore — fruto de méritos passados.
Essa felicidade interior superava qualquer prazer sensorial. Por isso, ele pôde renunciar ao palácio e viver como um mendigo sem arrependimento. Imagine: de 100 bahts (algo como R$ 17) para 1 baht, e ainda assim viver em plenitude. Esse é o poder do Desapego e da Mente treinada.
Para a tranquilidade da mente, os praticantes devem ter cuidado com os cinco prazeres sensuais em relação ao seu estilo de vida. Não se deve permitir que prazer ou felicidade surjam de qualquer contato sensorial. Por isso, é essencial buscar um local isolado, como uma floresta repleta apenas de árvores e folhas, para evitar que desejos (taṅhā) se manifestem.
A visão de árvores e folhas não desperta as mesmas reações que a visão de pessoas, especialmente do sexo oposto. Ao ver homens ou mulheres, o desejo pode surgir: o impulso de aproximar-se, de tocá-los, de estar perto deles. Isso torna a mente escrava dessas percepções, e quando não é possível satisfazer tais anseios, surgem o sofrimento, a tristeza e a solidão. Portanto, aqueles que buscam paz interior devem estar sempre vigilantes.
É fundamental manter atenção plena sobre os cinco sentidos — olhos, ouvidos, nariz, língua e corpo — evitando que visões, sons, aromas, sabores e toques sejam buscados como fontes de prazer. Nenhum contato sensorial deve ser cultivado por desejo; deve existir apenas por necessidade.
Por exemplo, ao comer, o propósito deve ser apenas nutrir o corpo, não buscar sabor, felicidade ou satisfação. Quem ainda está preso aos prazeres sensoriais escolhe pratos deliciosos, frequenta restaurantes preferidos e come com avidez. Já quem se alimenta com consciência come o que estiver disponível, desde que seja limpo e não cause mal, sem exigências. A refeição torna-se moderada, livre do excesso, pois não há busca por prazer na língua, nos olhos ou no nariz.
É como tomar um remédio: o sabor não importa; engole-se para que ele cumpra sua função. Da mesma forma, a comida é um remédio para a fome — e essa é a experiência sensorial de quem busca felicidade na mente tranquila, não nos sentidos.
Quanto às roupas, devem ser simples, sem cores chamativas ou adornos. Vestir-se com elegância revela apego aos prazeres sensuais, pois muitos se alegram ao serem elogiados por sua aparência. No entanto, quem almeja uma felicidade mais profunda — a da mente — não se preocupa com tecidos ou cores. As roupas servem apenas para proteger o corpo, evitar doenças e defender-se de insetos.
Além disso, não há interesse em maquiagem, cosméticos ou perfumes para disfarçar odores naturais. O corpo, quando não lavado, emite seu cheiro característico, e os praticantes do Dhamma lavam-se com sabão sem perfume apenas para manter a higiene, sem buscar prazer nisso.
Quanto ao sono, deve-se evitar camas excessivamente confortáveis, que dificultam o despertar e a Prática. Dormir deve servir apenas para repousar o corpo — alguns sequer se deitam, descansando sentados quando necessário. Há aqueles que limitam-se a três posturas: caminhar, ficar em pé e sentar. Evitam deitar-se por medo de apegar-se ao conforto e dormir além do necessário, pois consideram o sono um desperdício de tempo que poderia ser dedicado à pacificação da Mente. Afinal, a felicidade proveniente da quietude interior é incomparavelmente superior à fugaz satisfação do descanso físico.
[1] A Cerimônia Real de Aração, também conhecida como Festival da Aração, é um antigo rito real realizado em muitos países asiáticos para marcar o início tradicional da temporada de cultivo do arroz. A cerimônia real de Aração, chamada Lehtun Mingala ou Mingala Ledaw, também era praticada na Birmânia pré-colonial até 1885, quando a monarquia foi abolida.