Sahara Mai Coway
“Tornar-se consciente do sofrimento e de cada uma de suas manifestações é o primeiro passo para acabar com ele…”
“Os ensinamentos Budistas sobre os três tipos de sofrimento visam nos ajudar a nos tornarmos mais conscientes das sutilezas do sofrimento e das inúmeras maneiras pelas quais ele surge em nossa experiência. Tornar-se consciente do sofrimento e de cada uma de suas manifestações é o primeiro passo para acabar com ele.
- O Sofrimento do Sofrimento.
Dos três tipos de sofrimento, o primeiro e talvez o mais fácil de entender é o sofrimento do sofrimento (dukkha-dukkha). Isso inclui o sofrimento da dor física. Mesmo que, de alguma forma, consigamos passar pela vida sem precisar de um curativo, não podemos escapar da dor de envelhecer, adoecer e, um dia, morrer.
O sofrimento do sofrimento também descreve a dor emocional. Nossos sentimentos são feridos, nos preocupamos com o futuro e ruminamos sobre nossos infortúnios. Sofremos sofrimento puro sempre que nos encontramos em uma situação com a qual preferiríamos que tudo acabasse.
- O Sofrimento da Mudança.
O sofrimento da mudança (viparinama-dukkha) surge da nossa incapacidade de aceitar a verdade da impermanência, ou melhor, da nossa tendência a esquecê-la. Se o sofrimento do sofrimento descreve uma experiência que gostaríamos que acabasse, o sofrimento da mudança pode ser visto como o seu oposto. Sofremos mesmo quando sentimos prazer, porque, no fundo, sabemos que ele eventualmente chegará ao fim. Sim, existe sofrimento até mesmo no prazer, na verdade, mais sutil do que aquilo que abertamente entendemos como dor.
O sofrimento da mudança se refere não apenas à impermanência de nossos corpos físicos ou ao prazer sexual, mas ao alívio que atribuímos ao aumento que ganhamos, à compra de qualquer objeto material, à refeição que desfrutamos e aos relacionamentos que prezamos. Tudo isso mudará um dia.
- O Sofrimento da Existência.
O sofrimento da existência (sankhara-dukkha) também é conhecido como sofrimento onipresente. Este é o sofrimento que surge devido à nossa incapacidade de ver o mundo como ele realmente é. Em termos Budistas, essa visão de mundo equivocada é chamada de ignorância. Pensamos que sabemos como as coisas funcionam, mas estamos enganados. Essa confusão se perpetua na existência cíclica, o doloroso estado do Samsara.
Sofremos em parte porque não percebemos a verdadeira causa do nosso sofrimento. Continuamos a cometer o mesmo erro repetidamente, tentando evitar o que causa dor enquanto buscamos o que causa prazer. Mas se a nossa equanimidade depende de o mundo ao nosso redor ser perfeito, estamos condenados. Pois todas as coisas, em última análise, mudam. Mesmo que consigamos exatamente o que queremos, não podemos levar isso conosco quando morrermos.
No fundo, entendemos isso. É por isso que o descontentamento, o desconforto ou uma sensação de falta de fundamento perfumam consistentemente cada momento de nossas vidas. O sofrimento da existência nos lembra que a vida mundana sempre será insatisfatória.
- A Cessação do Sofrimento.
Então, o que devemos fazer? Em nosso estado de ignorância, o sofrimento é inevitável. Mas essa verdade nos oferece uma pista para a solução. Ao desenvolvermos uma compreensão de como o mundo realmente funciona, vendo isso diretamente através da experiência da meditação Budista (Vipassana) e, então, colocando em prática as verdadeiras causas da felicidade, encontramos uma saída. Como disse o grande mestre tibetano da meditação, “a saída é o caminho para dentro”.
Felizmente, o Buda nos deixou um caminho que leva ao fim do sofrimento. Para começar, devemos abandonar o hábito de buscar a felicidade fora de nós mesmos e nos voltarmos para o processo que ocorre dentro de cada um de nós.”