Editoria
Mae Chee Kaew: A Vida de uma Arahant Moderna
Mae Chee Kaew nasceu em 1901 em uma família devota em Baan Huay Sai, no nordeste da Tailândia. Era a caçula de cinco irmãos, criada em uma tradição budista profunda. Sua mãe faleceu quando ela tinha apenas cinco anos. Desde os sete anos, Mae Chee Kaew já demonstrava habilidades psíquicas incomuns, comunicando-se com seres invisíveis — divindades celestiais, nagas, animais e espíritos famintos da cosmologia budista. Frequentemente, era convidada a visitar os reinos celestiais e infernais, e conseguia até mesmo ver as vidas passadas desses seres. Seu pai, no entanto, a desencorajava de falar sobre esses fenômenos.
Seguindo a tradição, ela oferecia comida diariamente aos monges que viviam exclusivamente de esmolas. Foi assim que, em 1917, conheceu Ajahn Mun, o grande mestre da tradição das florestas, quando ele se estabeleceu próximo à sua vila. Ele percebeu que ela possuía habilidades psíquicas extraordinárias e um grande potencial espiritual. Ajahn Mun lhe deu instruções sobre meditação, e mesmo como iniciante, ela conseguia manter a mente profundamente absorvida por horas. O próprio Ajahn Mun, um arahant dotado de poderes psíquicos, notou que ela frequentemente tinha visões e experiências transcendentais durante suas práticas.
Apesar de ter apenas 16 anos, Ajahn Mun aceitou-a como discípula, pois via nela o potencial para alcançar o objetivo supremo: o estado de arahant. Ele sugeriu que ela se tornasse uma renunciante (uma mae chee, como eram chamadas as monjas na Tailândia na época), mas seu pai não consentiu. Sem outra opção, Ajahn Mun aconselhou-a a parar de meditar, pois, sem um mestre qualificado para guiá-la, suas habilidades poderiam trazer mais problemas do que realizações. Ele orientou-a a esperar por outro professor.
Aos 17 anos, foi obrigada a se casar. Seu matrimônio não foi feliz, pois o marido tornou-se infiel. Como não podiam ter filhos, adotaram uma menina, filha de um parente. Mesmo assim, Mae Chee Kaew nunca perdeu o desejo de dedicar-se à vida espiritual. Eventualmente, conseguiu permissão do marido para participar de um retiro de meditação de três meses. Ao experimentar essa vida, decidiu que seguiria o caminho da iluminação. Aos 37 anos, após duas décadas de casamento, o marido concordou com o divórcio, desde que ela renunciasse a todos os bens materiais. Ela também garantiu o cuidado da filha antes de renunciar ao mundo dos leigos.
Tornando-se uma mae chee (renunciante), Mae Chee Kaew praticou meditação com vários monges e recebeu um terreno de 8 hectares para construir um local de prática para ela e um pequeno grupo de monjas. Reencontrou Ajahn Mun, mas, como ainda estava muito apegada aos fenômenos psíquicos que experimentava, ele não pôde ajudá-la a avançar.
Em 1951, aos 50 anos, Ajahn Maha Boowa chegou à sua vila e tornou-se seu mestre. Ele, que também havia alcançado o estado de Arahant, reconheceu seu potencial, mas percebeu que seu apego a visões e experiências sobrenaturais a impedia de progredir. Orientou-a a voltar sua energia para dentro, investigando a verdadeira natureza da mente e do corpo.
Em certa ocasião, ao experimentar torrentes de luz e uma sensação de vazio total, ela confundiu essa experiência com o Nibanna. Ajahn Maha Boowa a corrigiu, e ela então entrou em um longo retiro de silêncio. Praticou com diligência extrema, dormindo pouco e, em alguns dias, ficando sem comer. Primeiro, percebeu a falsidade das formas, depois dos pensamentos, e gradualmente desconstruiu o senso de “EU”. Finalmente, ela experimentou um brilho supremo e, ao investigá-lo profundamente, alcançou o objetivo final.
Assim como o Buda e Ajahn Maha Boowa após suas realizações, Mae Chee Kaew recordou suas vidas passadas e refletiu sobre a dificuldade de ensinar outros a alcançar o mesmo estado de Iluminação. No entanto, logo compreendeu que, se ela conseguira a libertação, outros também poderiam conseguir.

Mae Chee Kaew possuía habilidades como prever eventos, ler mentes e realizar curas. Durante uma seca, guiou sua comunidade monástica até fontes de água ocultas, que haviam sido reveladas a ela em visões durante a Meditação.
Em 1977, foi diagnosticada com tuberculose pulmonar, diabetes e câncer, mas sobreviveu até 1991. Após sua morte, durante a cremação, seus ossos transformaram-se em relíquias de cores variadas, em formato de pérolas e cristais — a prova final de sua realização espiritual suprema, o estado de ser uma Arahant.
Mae Chee Kaew deixou um legado para inspirar as futuras gerações. Sua vida provou que alcançar o estado de arahant não é impossível, nem para mulheres nem para homens, mesmo na era moderna. Por isso, não devemos subestimar nosso potencial espiritual, mas sim aspirar e esforçar-nos com determinação.