Editor
Três Tradições Budistas e Seus Relacionamentos
Todos os ramos da Sangha monástica traçam suas linhagens de ordenação até uma das primeiras fraternidades budistas. No entanto, entre as primeiras escolas de pensamento, apenas a que ficou conhecida como Theravāda sobrevive até os dias atuais. Seu nome indica a intenção de seguir os ensinamentos dos theras (anciãos) que participaram do Primeiro Concílio Budista, realizado logo após a morte do Buda para preservar seus ensinamentos. Embora não tenha permanecido estático, o Theravāda manteve-se próximo ao que se conhece dos ensinamentos originais do Budismo, preservando sua ênfase na libertação por meio do esforço individual, com o Dhamma como guia, os monges como apoio.
Por volta do início da Era Cristã, surgiu um movimento que deu origem a um novo estilo de budismo: o Mahāyāna (“Grande Veículo”). Essa tradição enfatiza a compaixão, essência do Caminho do Bodhisattva, no qual o praticante busca atingir a iluminação não apenas para si, mas para beneficiar todos os seres sencientes. O Mahāyāna também incorpora a devoção a figuras sagradas — seres iluminados cuja adoração auxilia na transformação espiritual — e desenvolveu filosofias sofisticadas, expandindo os ensinamentos anteriores. Ao longo do tempo, o Mahāyāna diversificou-se em várias escolas, como Zen, Soto-Zen, Tientai, Kadampa e outras.
No século VI, na Índia, surgiu uma vertente do Mahāyāna conhecida como Mantrayāna (“Veículo dos Mantras”). Embora compartilhe as mesmas doutrinas fundamentais do Mahāyāna e utilize muitos de seus textos, o Mantrayāna introduziu práticas poderosas, como a recitação de mantras (sons sagrados) e técnicas avançadas de visualização. Sua forma tardia, consolidada no século VII, é chamada de Vajrayāna (“Veículo do Diamante”), referindo-se ao vajra (símbolo da mente indestrutível e iluminada). O Vajrayāna baseia-se nos tantras, textos que descrevem sistemas complexos de ritual, simbolismo e meditação. Neste trabalho, o termo Vajrayāna é usado como um conceito abrangente para essa tradição, incluindo também elementos do Mahāyāna que ela enfatiza.
A Expansão Geográfica do Budismo
Embora o Budismo seja hoje uma religião minoritária na Índia, sua disseminação pela Ásia o tornou predominante em três grandes regiões:
- Budismo do Sul (Escola Theravāda)
- Predominante no Sri Lanka e no Sudeste Asiático (Tailândia, Mianmar, Camboja, Laos).
- Presença minoritária no sul do Vietnã, na província chinesa de Yunnan, na Malásia, na Indonésia, em partes de Bangladesh e da Índia, e, mais recentemente, no Nepal.
- Em comum possui alguns elementos do Mahāyāna, mas mantém o foco nos ensinamentos originais através dos suttas.
- Budismo do Leste Asiático (Mahāyāna)
- Baseado na tradição chinesa, abrange a China (incluindo Taiwan, exceto regiões tibetanas e mongóis), Vietnã, Coreia do Sul, Taiwan e Japão.
- Presente também entre comunidades chinesas na Indonésia e na Malásia (ao sul).
- Budismo da Ásia Central (Vajrayāna)
- Herdeiro do Budismo indiano tardio, com predominância da tradição tibetana.
- Encontrado no Tibete (China e Índia), Nepal, Butão, Mongólia e em regiões da Rússia (Burjátia e Calmúquia).
- Recentemente, vem experimentando um ressurgimento em partes da Indonésia.
Conclusão
Estas três tradições — Theravāda, Mahāyāna e Vajrayāna — podem ser vistas como ramos de uma mesma família espiritual. Embora compartilhem “traços de família”, cada uma possui características distintas, seja na prática, na filosofia ou na ênfase devocional. Além disso, o Budismo continua a se expandir: desde o século XIX, e especialmente na segunda metade do século XX, estabeleceu-se na Europa, nas Américas (EUA, México, Argentina, Chile, Brasil), na Austrália, na Nova Zelândia e vem sendo revitalizado fortemente na Índia.