Ajahn Anan
Contemplar as Quatro Moradas Sublimes — mettā (bondade amorosa ou boa vontade), karuṇā (compaixão), muditā (alegria empática) e upekkhā (equanimidade) — é outro método reflexivo de grande benefício.
A verdadeira mettā é imparcial e ilimitada
Porém, ao iniciarmos sua prática, devemos começar cultivando boa vontade por nós mesmos, desejando-nos genuína felicidade. A partir dessa base, estendemos esse sentimento a um ente querido, depois a alguém neutro e, por fim, a uma pessoa com quem temos conflitos. Desse modo, a bondade amorosa expande-se gradualmente até abranger todos os seres.
Para que essa prática floresça em sua forma mais pura, é essencial cultivá-la com frequência. Com dedicação constante, o poder da mettā crescerá naturalmente.
Cultivando as Qualidades do Coração
Ao aplicarmos continuamente a atenção plena aos pensamentos de bondade amorosa (mettā), a mente gradualmente se aquieta, tornando-se serena e estável. À medida que experimentamos a paz da concentração, surge um profundo relaxamento e contentamento interior. Nesse estado, concentração e bondade amorosa se fundem, tornando-se expressões de uma mesma realidade. Com a mente calma, as irritações naturais se dissipam, e ao manter a atenção no objeto da meditação, alcançamos um estado livre de má vontade – uma paz reconhecível, plena de serenidade.
Karuṇā: A Compaixão que Reconhece o Sofrimento
A compaixão (karuṇā) é o reconhecimento do sofrimento inerente a todos os seres e o desejo genuíno de aliviá-lo. Seu desenvolvimento segue um caminho semelhante ao da bondade amorosa.
- Começamos por nós mesmos: Identificamos nosso próprio sofrimento, seja ele sutil ou profundo, e fazemos o voto de transcendê-lo através da prática do Dhamma.
- Estendemos boa vontade aos entes queridos: Reconhecemos as dificuldades daqueles que amamos e desejamos sinceramente que se libertem delas.
- Abrangemos a todos: Direcionamos o mesmo sentimento a pessoas neutras e até àquelas com quem temos conflitos, expandindo a compaixão sem distinção.
Mettā e karuṇā estão profundamente interligadas: ao cultivar uma, fortalecemos a outra. Nas recitações de mettā, por exemplo, as frases – “Que todos os seres sejam livres da hostilidade, da má vontade e da ansiedade; que mantenham o bem-estar e se libertem do sofrimento” – não só expressam amor, mas também compaixão ativa, o desejo de remover as causas da dor.
Muditā: Alegria na Felicidade Alheia
A alegria empática (muditā) é a celebração da bondade já presente em nossas vidas e no mundo.
- Praticamos a gratidão: Regozijamo-nos com nossa própria abundância e boas circunstâncias, desejando que elas perdurem.
- Alegria pelo outro: Lembramos daqueles que vivem momentos de felicidade e desejamos que continuem desfrutando desse bem-estar.
- Inclusividade: Por fim, estendemos esse desejo a todos os seres, para que compartilhem igualmente de oportunidades e alegrias.
Upekkhā: Equanimidade Perante o Kamma
A equanimidade (upekkhā) surge da compreensão profunda do kamma:
- Autoaceitação: Observamos nossas dificuldades não resolvidas com paciência, reconhecendo que são fruto de ações passadas. Isso nos permite abraçar nossa realidade sem resistência.
- Compreensão para com os outros: Mesmo cultivando mettā, karuṇā e muditā, entendemos que cada ser colhe o que plantou. Algumas situações estão além do nosso poder de intervenção – e isso é parte do caminho.
- Libertação do sofrimento desnecessário: Ao aceitar os limites impostos pelo kamma, vivemos com maior paz, sem nos agitarmos com o que não podemos mudar.
Conclusão
Juntas, essas quatro qualidades – mettā, karuṇā, muditā e upekkhā – formam os pilares de um coração equilibrado. Cultivá-las é um processo contínuo, onde cada uma reforça as outras, levando-nos a uma existência mais harmoniosa, tanto para nós mesmos quanto para todos os seres.