Chara Scroope
O Budismo Theravada não concebe o Buda como uma divindade suprema, mas sim como um ser humano que atingiu uma profunda transformação espiritual. Segundo essa tradição budista, Siddhartha Gautama alcançou a libertação definitiva do ciclo de sofrimento (dukkha) e do renascimento (samsara), além de ter desenvolvido capacidades extraordinárias após sua iluminação (Nibbana em Pali; nirvana em sânscrito).
Inserção Cultural e Prática Religiosa
Nos países do Sul e Sudeste Asiático (Myanmar, Tailândia, Laos, Malásia, Vietnã, Camboja), o Theravada está profundamente integrado à identidade cultural. Essa relação faz com que a prática budista varie significativamente: enquanto alguns fiéis são devotos ativos, outros identificam-se nominalmente com a tradição.
Linguagem e Textos Sagrados
Os ensinamentos originais do Theravada foram compilados em línguas indianas clássicas — principalmente páli, com influências do sânscrito. Por isso, até hoje, termos litúrgicos, cânticos (paritta) e conceitos filosóficos (como kamma, dhamma, dukkha) preservam-se nesses idiomas. Embora algumas traduções para línguas locais existam, o Pali predomina nas práticas Theravada, em contraste com o Mahayana, que adota mais frequentemente vernáculos ou o sânscrito.
Relação com o Estado e a Sangha
Em nações de maioria theravadin, como Tailândia e Sri Lanka, o Estado frequentemente reconhece o budismo como religião oficial e mantém laços estreitos com a comunidade monástica (Sangha). A Sangha atua como guia espiritual da população, mas também exerce influência política — especialmente através de monges vindos de elites tradicionais, que podem assumir papéis de conselheiros governamentais.
Sincretismo e Diversidade Ritualística
O budismo Theravada, como outras vertentes budistas, é marcado pelo sincretismo. Práticas aparentemente budistas muitas vezes mesclam-se com tradições locais (como cultos a espíritos ou rituais hindus), resultando em expressões únicas em cada região. Cerimônias, festivais (como o Vesak) e até interpretações doutrinárias variam conforme o contexto cultural.
Expansão Global
Nas últimas décadas, o Theravada tem ganhado adeptos em países ocidentais e culturas não asiáticas, impulsionado por monges missionários e comunidades leigas que adaptam seus ensinamentos a novos públicos. No mundo todo estima-se que hajam mais de 560 milhões de budistas entre leigos e monges.
Pluralidade de Interpretações
Vale ressaltar que as posições institucionais do Sangha (cominidade) ou de textos canônicos não refletem necessariamente as crenças individuais dos praticantes leigos. A aplicação dos ensinamentos varia conforme a experiência pessoal, resultando em uma diversidade de práticas dentro de uma mesma tradição.
Chara Scroope é especialista em diversidade cultural e religiosa. Ingressou na equipe do site Atlas Cultural em 2016 e, desde então, tem contribuído significativamente para o desenvolvimento de conteúdo por meio de sua expertise em história, cultura e religião asiáticas. Possui mais de seis anos de experiência em pesquisa qualitativa, incluindo entrevistas e observações participantes. Chara se formou na Universidade de Queensland (Austrália) como oradora de sua turma, com bacharelado em Artes (com honras) e bacharelado em Ciências Sociais. Pesquisadora de tradições Budistas diversas.