Huang Po Ch’uan Hsin Fa Yao
“A Mente e o objeto de sua busca são um e o mesmo…”
“Quando as pessoas do mundo ouvem dizer que os Budas transmitem a Doutrina da Mente, imaginam que existe algo a alcançar ou compreender além da Mente e, portanto, utilizam a Mente para buscar o Dhamma, sem compreender que a Mente e o objeto de sua busca são um e o mesmo.
Não se pode utilizar a Mente para buscar algo da Mente; pois, então, após passar milhões de kalpas (próximo de 4,32 bilhões de anos), o dia do êxito não terá ainda amanhecido. Tal método não é comparável com a repentina eliminação do pensamento conceitual, que constitui o Dhamma fundamental. Imagine um guerreiro que, esquecendo que já leva sua pérola na testa, fosse buscá-la em algum outro lugar. Certamente não a encontraria embora viajasse por toda a Terra.
Porém se outra pessoa, compreendendo a situação, viesse a lhe indicar onde ela está, o guerreiro a encontraria imediatamente e compreenderia que a pérola estivera constantemente ali. Assim é que se vocês, estudantes do Caminho, por se enganarem sobre ‘sua’ própria Mente verdadeira, ao não reconhecerem que são Budas, a buscassem consequentemente em algum outro lugar, entregando-se a várias façanhas e práticas, esperando obter seu objetivo por tais práticas graduais.
Porém, mesmo depois de muitos kalpas de busca diligente, não lhes será possível encontrar o Caminho. Estes métodos não podem ser comparados com a eliminação instantânea do pensamento conceitual, na certeza de que não há nada que tenha existência absoluta, nada que nos ofereça um apoio, nada em que possamos confiar nada que nos dê refúgio, nada subjetivo ou objetivo. Evitando qualquer causa que dê espaço à produção do pensamento conceitual, será assim que encontrarão Bodhi (Buddha em sânscrito); e quando a encontrarem, não terão feito outra coisa que não seja encontrar o Buda, que sempre existiu em sua própria Mente.
Os kalpas de laboriosos esforços parecerão como outros tantos kalpas de empenhos malogrados; tal como aconteceu ao guerreiro do exemplo, quando encontrou sua pérola e compreendeu que a matinha sempre pendurada na sua testa; e do mesmo modo seu achado não tinha nada a ver com seus esforços para descobri-la em algum outro lugar. Por essa razão o Buda disse:
‘Na realidade nada alcancei com a completa e insuperável Iluminação.‘
Huang Po Ch’uan Hsin Fa Yao, texto budista chinês do século IX